05 agosto 2019

Eu nunca me senti como estou me sentindo agora, aquecida num dia de extremo frio. Apesar de eu amar os dias de inverno, frios como devem ser, aprecio a forma como pensar em você aquece meu coração e meu corpo. Nos conhecemos de forma tão relativamente superficial um dia, dentro de um aplicativo. Lembro de ter gostado da sua foto com avental de cozinheiro e depois ter descoberto que você fazia bolos e docinhos aclamadíssimos por seus colegas e amigos. Lembro de conversar com você por dias e horas seguidas sem o risco de acabar o assunto, que sempre foi infinito. Nos encontramos, nos conhecemos no raso de um lago bobo e resplandecente numa praça, aquela que lembramos até hoje. Onde lembro de ter tocado seus cabelos macios e de ter recebido um chocolate, que pela doçura da atitude foi um dos mais deliciosos que já provei. Lembro de tê-lo colocado na bolsa e degustado durante a semana naquele escritório que já estava farta de frequentar. Continuamos nos falando e de repente eu estava em outro estado conhecendo outra pessoa. Pessoa com quem me relacionei e tive um relacionamento digno de conto de fadas. Me distanciei, tanto física quanto emocionalmente. E dentro deste espaço proporcional ao que havíamos brevemente construído, escrevi outras histórias. Fui ao outro lado do oceano, sorvei toda a intensidade do relacionamento em que me encontrava, aprendi e cresci um bocado. Quando esta breve história terminou, não titubeei em voltar a pensar em você, que na verdade nunca saiu da minha memória, conservada docemente. Assim que voltei às nossas terras, você estava justamente em outra. Tudo bem, estava tudo bem, nossa amizade constante, distante e respeitosa manteve tudo sempre na normalidade. Até que um dia, dentro do relacionamento iniciado tão errado, eu estava em uma lacuna de tempo escolhida por outrem. Você estava em uma lacuna de liberdade limitante aos teus sentimentos também delimitada por outrem. Nos tocamos novamente, com uma pitada de saudade e outra de intensidade deliciosamente aproveitada. E novamente me recordo de um chocolate que você me deu, pouco antes ou depois do Natal, não me recordo ao certo, mas tão doce quanto o primeiro.  Depois disso eu vivi traumas. Até mesmo por ter sido sincera a respeito de ter estado com você. Nós, naquele dia que me rendeu bons minutos de lembranças que duraram meses, fomos transparentes e inflamáveis como a brasa. Eu, dentro de um relacionamento que mal escolhi, ou escolhi mal, não importa, tentei defender a continuidade do contato com você. No entanto isto feria os sentimentos do então companheiro de vida. Tudo bem, você sempre foi gentil ao entender. Ouvi teu nome tantas vezes da boca dele, transbordando de ciúmes. Mesmo que eu, como sempre sou, fosse a mais fiel das namoradas. Mesmo que eu, reconhecendo a pessoa linda que és, quisesse manter nossa linha de contato apenas na amizade. Coisa que soubemos muito bem como manter. Passei os dois últimos anos sendo diminuída, coisa que sei que não é da tua conta. Sendo agredida de formas muito sutis, sendo persuadida a duvidar de minha própria capacidade e sanidade. Tendo que justificar cada sorriso, ou lágrima não direcionada ao homem que havia até então escolhido. Quando recebia os melhores reconhecimentos, eu era massivamente questionada, direcionada a pensar que somente ao lado desta pessoa eu seria capaz de algo, ainda que em sua sombra. E eu sei que nada disto é da sua conta. Mas também sei que você me perguntou brevemente em um momento nos últimos dias. E ansiosamente me ouviu e eu ouvi ansiosamente tua história com outra pessoa que também não te fez todo o bem. E te vejo como essas pessoas que só são capazes de fazer o bem. E que também somente o merecem. Resumi aqui, a minha história confusa e fatídica do que se atravessou entre nossa linha tão bem cuidada de conversas diversificadas e desejo genuíno do bem na vida do outro. Eu nunca senti que você deixou de fazer parte da minha vida, ainda que nossa parcela compartilhada fosse variavelmente aumentada ou diminuída. 
O que quero dizer, dentre tantas declarações que tenho pressa que você saiba, é que você é um belo de um sopro leve e carinhoso só quando penso na sua existência. Que parece demasiadamente que eu vacilei em reconhecer a tua magnitude. Não estou te endeusando, leonino, estou apenas reconhecendo a presença curiosamente constante que você tem e que faço questão que tenha na minha vida. Eu sei que nossos signos não são compatíveis, segundo nosso mapa astral, que por sinal, por bobeira, já chequei. Mas quem vai negar que somos bons à beça na matéria de conversar infinito e afagar até cansar? Que as estrelas e astros estejam na posição que for, desde que nos iluminem. O que quero dizer também, é que te reconhecer é um dos fragmentos do meu autoconhecimento. Nestes últimos meses, fora o tanto de tempo que passei sozinha, eu fui capaz de me curar e amar de um jeito que eu nem imaginava ser capaz. Como eu te disse, esses dias, estou vivendo um momento delicioso. Queria dizer que tua pessoa me faz sentir umas coisas esquisitíssimas que nunca senti. Uma ansiedade, uma espera pela próxima palavra, pela tua opinião, por tuas fotos apoiando teu lindo rosto na mão. Eu sei que daqui alguns meses você pode estar em outro continente, um país maravilhoso, em uma oportunidade incomparável, e isto me faz muito feliz. Depois de tanto acreditar, apreciar a liberdade e aprender a valorizá-la com minhas vivências, ela fica ainda mais linda dançando na vida de quem eu gosto. Fica aí uma deixa bem óbvia, eu te gosto. Quero dizer que pensar em você, e insistir, e te mandar tantas mensagens com coisas que eu acho que vai gostar de ver, é uma bela demonstração de que te aprecio, por si só, pelo caminho que é só teu, pela sintonia que é só nossa, pelas curvas que podem existir, pela cor que pensar em você trouxe para os meus dias que afortunadamente já estavam bem coloridos. 
E ainda tem o fato de que você sempre despertou em mim uma curiosidade que sinto que só seria liquidada dentro de boas horas a sós. Tua delicadeza, mistério e intensidade, somadas ao meu mistério, intensidade e carinho, parecem dar resultados tentadores dos quais já provamos um pouco. Ainda sinto que temos espaço para mais. Além de nossa deliciosa intimidade de conversas sem fim, há faíscas inegáveis que surgem quando há pele com pele. Tenho o ímpeto de provar cada pedacinho disso.
Isto pouco tudo muito que escrevi, foi um desabafo. Sinceramente não faço ideia de quando vai ler ou se vai ler algum dia. Não é uma declaração de amor, intimidadora. É poesia rotineira dentro desse cotidiano pacífico e empolgante que é pensar em você.