05 novembro 2009

Verão

Eles chegaram. Júbilo. Esperei tanto por isso. Vou abrir a porta.
Luiza!! Felipe!! Bem-vindos foram. Um diálogo me marcou:

 -Estam vendo estes quartos? Estam tomados por visitas indesejadas, me fazem muito mal. Sabe o que eles fazem comigo? Logo de manhã amarram uma corda em meu coração, atam-na e pressionam-me até que eu fique exausta, algumas vezes não aguento e passo pela vergonha de me expor, assim, nua de minha integridade. - eu disse.
 -E eles têm nome? -indagou Felipe.
 -Existem muitos deles, boa parte não sei como se chamam, alguns nem entendo a pronúncia, mas sinto ferirem-me. Sei que há a Rejeição, o Rancor, a Humilhação, a Solidão, e o líder deles é a Tristeza. Prefiro nem pensar neles, já aparecem demais pra mim.Adoraria que saissem de minha casa, cansei.
 - Por que não faz o que estamos fazendo? -sugere Luiza- Fuja, venha! Deixe esse lugar.
 - Temo pela verdade. Sei muito bem que se eu sair, nada disso vai passar, só mudarei o cenário. Além disso, não posso deixar essa casa, disseram que tenho que lidar bem com as visitas e daqui a alguns anos eu poderei sair, entretanto não terei a garantia de sentir-me livre, como anseio. Se eu sair, virão mais hóspedes... - lamentei.

Rimos muito, inocentemente, abundantemente. Poucas vezes pude me sentir tão viva e certamente eufórica. Eram meus amigos, no sentido mais verdadeiro da palavra. Mas a pior parte chegou, inesperadamente: A partida.

 -Temos que ir embora. -exclamou Felipe, fazendo as malas rapidamente e retirando todos os doces que estavam sobre a mesa. - Não temos culpa, você sabe.
 - Mas vocês trouxeram-me a vida que havia se escondido de mim, e é muito difícil encontrá-la sozinha. Não me deixem. -Exprimi doridamente.
 - Adorariamos continuar por aqui, Natália, mas o vento nos leva e não podemos ficar. Sinto muito. - Luiza abandonou minhas mãos.
 -Não! -bradei na vã esperança de convencê-los a não me deixarem.
 -Adeus... -disseram juntamente.
Não houve tempo para abraços, despedidas, considerações. Queria agradecê-los por trazer aquela inexplicável alegria. Se foram, como sempre. De repente desapareceram. Me restou ficar novamente com todos aqueles invasores que viviam comigo.
E o doce se tornou amargo mais uma vez.

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