No mesmo tom que se fala de um falecido, falo desse ano. Arrepios de dor tomam conta de mim ao anoitecer, quando a noite deixa claro onde está a ferida. Meus olhos agitados na cama, pulo a janela e sento para ver a cidade, a névoa me abraça e o calor do meu coração declara aos gritos o arrependimento. Onde está a vida? Tudo tem sido tão injusto. A certeza das minhas escolhas tornam-se grandes erros. E eu que me achava tão madura. Início do ano: euforia, meio do ano: esporro, final do ano: dor. Ao meu ver este ano foi perdido, é como se ele se subtraísse da minha vida, submergisse. É tão típico falar de dor e cicatrizes, mas eu falo de uma dor tão verdadeira, corrosiva, fatal. Desde a hora em que acordo ela me tortura, é como se meu coração estivesse sendo pressionado, literalmente. À noite ela se acentua, e como eu disse, a escuridão deixa claro onde está a ferida.
E eu vou sonhando... sonhando em ser curada, sonhando em ser o suficiente, em superar as espectativas, sonhando em ver o sol nascer, em encontrar alguém, em encontrar até mesmo um amor. Eu sonho, porque são meus sonhos que não me deixam cair.

Vista da minha janela