19 junho 2010

Casa vazia


Seria essa casa vazia o meu desejo obscuro? Preparei-me para um tsunami com um guarda-chuva. De repente, toda a agonia cessa de uma forma estranha e quase abrupta, tudo pára. Talvez, a decisão tenha chegado demasiado tarde. Num dado momento vejo que o caminho não tem mais volta. Ando lutando para não me sentir culpada, no entanto, me mandaram remar até que o barco afundasse, agora estamos aqui, morrendo na praia. Não há sol, não há frio, calor, não há nenhuma estrada a vista, apenas pessoas doentes e perdidas. Cada qual se lembrando do rosto das outras e jurando nunca mais esquecer. Uma por uma indo sem dizer adeus, comportando-se como se tudo houvesse acabado ali. Acabou de começar um longo e penoso caminho a se percorrer, sem previsão alguma de chegada ou tempo, apenas uma névoa densa a cobrir tudo o que pudesse estar à vista. Em algum lugar no funda de cada alma doente há um fio de esperança, quase a se arrebentar, de que todos possam se unir novamente. Todos mudos e atônitos fazem uma caminhada abafada, escutando somente os próprios passos naquele lugar desconhecido, que a cada centímetro parecia mudar de cor, de forma, de cheiro, de direção. A vontade de voltar é imensa nessas horas. Enquanto estavam todos juntos, apesar do atrito e de toda a dor corrosiva, havia sempre um movimento a se copiar, a se basear. Já no peso do andar cansado, daquele breve inicio de caminhada, ofegavam e faziam perguntas em voz alta, sem poder responder. Perguntavam, em especial, de onde extrairiam as forças que até então estavam constantes e acomodadas dentro de si. Os pensamentos vinham rapidamente e em vertigem, causando uma confusão ainda maior. Em uma dessas vertigens, sempre aparecia algum de nós, aguardando por um abraço, e se apagando aos poucos.

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