
Domingo à
noite. Novamente. Provando nas horas mais doloridas da semana que estou preso
no ciclo sufocante da rotina. Amanhã é segunda-feira. Novamente. Um dia que
virá frio e nublado, mesmo se tiver sol. Um dia que chega aos berros, depois de
ter sussurrado um fim de semana inteiro. Um dia que vem trazendo esperanças de
que a semana acabe e o peso sufocante de uma semana que apenas começou. Os dias enclausurados são previsíveis.
Acordarei no começo do dia apenas pensando em seu fim, beberei café com um
desejo sutil de que de alguma forma me forneça uma energia que desconheço.
Começarei a exercer meu papel, mecanicamente, e serão horas preenchidas de um
vazio fantasiado de produtividade. Passarei os minutos esperando pelo próximo
intervalo, as horas esperando pelo fim do dia e os dias esperando pelo fim da
semana. Funcionando como uma engrenagem pela inércia da máquina. Percorrerei os
mesmos caminhos, as mesmas ruas, beberei do mesmo café. Enfrentarei os mesmos
problemas. Chegarei ao fim de cada dia com um alívio por tudo ter acabado.
Terei medo de dormir para acordar e viver o pesadelo lúcido da autonegação. Eu
farei a máquina funcionar, eu estudarei a máquina, eu me tornei a máquina. Minha
vida se tornou uma tediosa espera pelos fins. A máquina é uma zona de conforto
e estou inegavelmente desconfortável. Este desconforto está me expelindo para
fora do funcionamento mecânico das peças. Enquanto eu, inerte e confortável, remava
a favor da correnteza, acreditava em ganância, em carreira, em bens, em
traduzir-me pelos papéis. Eu acreditava em papéis. Uma exatidão que esconde o
abstrato vivo do ser. Mitos da sociedade líquida. Hoje eu, afogado pela
correnteza percebo que todos os rios levam ao mesmo mar de satisfação ilusória
e artificial. É um mar morto, aonde só sobrevivem os sonhos artificiais que
vieram junto à correnteza. Percebo que só preciso de um lago tranquilo de paz
de espírito e simplicidade. Quando lembro das vezes em que me senti vivo, não
lembro de nada que custasse caro ou um centavo qualquer. Eu lembro do vento
cortando meu rosto no topo de uma montanha, lembro do toque gelado dos flocos
de neve pela primeira vez em meu rosto, da água do mar brincando com a chuva em
um verão abafado. Compreendo, frustrado, que o acesso à coisas tão naturais
quanto o próprio ser humano custam. Custam horas, custam vida. Entendo,
insatisfeito, que construímos um sistema tão eficaz quanto destruidor, de
traduções numéricas, baseadas em papéis, plásticos e títulos. E se para viver
pagamos com nossa vida, ainda que traduzida, que encontremos na essência individual
de cada um uma forma de tornar este processo valioso pelo que vale. Que vivamos
por um propósito, que seja verdadeiro à alma de cada um, que preencha os dias e
horas para que não nos tornemos vazios de nós mesmos. Que não vivamos pela
espera dos fins e sim em busca de recomeços até estarmos confortáveis em nós
mesmos. Estou enlouquecendo paro o mundo e cada vez mais lúcido para mim mesmo.
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